Sermão x Stand-up Comedy

Theodor Schnell the Younger [Public domain], via Wikimedia Commons

Artigo publicado no jornal Alagoas em Tempo, edição de 15 a 21 de fevereiro/2016 | Ano 10 – Nº 715.

Marcos Antonio Fiorito *

O título deste artigo faz pensar, naturalmente, que seu autor pleiteia uma comparação esdrúxula entre a homilia de um religioso e o estilo atraente e debochado de fazer humor do espetáculo de comédia stand-up. E, de fato, o que tem a ver uma coisa com a outra? Diretamente falando, nada! Elas têm objetivos distintos, embora ambas procurem atrair o público para o conteúdo de suas palavras.

Uma tem graça no sentido sobrenatural; a outra, no sentido totalmente terreno, pois provoca o riso de tal forma, que as pessoas, praticamente, se embriagam de tanto gargalhar.

Quer o sermão, quer a comédia citada exigem, de quem os faz, boa oratória. Se você não sabe falar em público, fracassará como orador. Neste sentido, o mundo conheceu grandes oradores, como Demóstenes, Cícero, Paulo de Tarso, Bernardo de Claraval, Bossuet, Mirabeau, etc.

Nos seminários, os futuros sacerdotes recebem aulas de homilética (arte de pregar, fazer sermões, etc.), e no mundo existem inúmeras escolas de oratória que ensinam a nobre arte de falar em público. E discursar bem pode se transformar numa verdadeira arma. Catão (234 a.C.), senador romano, a usou para convencer a elite da cidade eterna a destruir Cartago. E assim se deu: da antiga cidade não sobrou pedra sobre pedra. E Cristo, o Verbo encarnado, o Orador dos oradores, com sua divina pregação proclamou o Reino dos Céus.

A palavra, portanto, pode condenar e também salvar. Tudo depende de quem a transmite…

Porém, eis que, entre as surpresas do mundo pós-moderno, surgem pastores que inauguram uma nova forma de fazer pregação, que é trazer para suas preleções o estilo stand-up comedy. Seria, sem dúvida, cômico, se não fosse trágico, ver um pastor, dentro de um templo, usar linguagem jocosa – e até obscena – para atrair com mais sucesso a atenção dos fiéis.

Eles usam expressões engraçadas, fazem os fiéis rirem com particularidades do dia-a-dia, descritas de forma espirituosa, etc. E vale qualquer assunto, inclusive tratar da intimidade dos esposos… Sim, isso mesmo que você leu, caro leitor, vale até mesmo ensinar ao casal como “esquentar a relação”… E, repito, dentro de um templo, que se julga ser a casa de Deus.

Entretanto, dirá um fervoroso fiel, defensor dos pastores comediantes: — “Mas isso prende a atenção do público, as pessoas gostam. É melhor do que muitos padres e pastores que têm por aí, que fazem aquele sermão maçante, pesado, que dá sono”…

O sucesso deles é tão grande, que seus vídeos se espalham pelas redes sociais. E o que há de mais grave é que muita gente sequer percebe o que há de equivocado nisso. As pessoas hoje estão tão distantes do ideal cristão, estão de tal forma materializadas e mundanizadas, que não se dão conta do quanto isso tudo é contrário à linguagem do Evangelho. Na verdade, a Igreja e seus sacerdotes têm o dever de evangelizar o mundo, obedecendo ao mandato de Cristo: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações” (Mt 28, 19). Entretanto, o que vemos em nossos dias é o inverso: o mundo influenciando cada vez mais os cristãos e seus pastores. A sacralidade vai dando lugar à vulgaridade, a gravidade ao humor desenfreado, e a teologia da graça vai dando lugar ao engraçado.

Ao ver tanta gente rindo e aplaudindo onde se deveria esperar atenção, respeito e palavras cheias de unção sobrenatural, impossível não se recordar do que nos narra o Evangelho de Lucas (23, 34): “E Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem.”

* O autor é teólogo e redator católico

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação do autor.)

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